sexta-feira, 3 de junho de 2011

Noticias do ensino jurídico


Têmis (quando os homens ainda não tinham vendado seus olhos).
Escultura datada de 300 aC, atualmente no Meseu Arquelógico Nacional de Atenas.


Prezado professor ou doutor (ou os dois) Gerivaldo Neiva,

Antes de mais nada, gostaria de parabenizá-lo e agradecer-lhe. Chamo-me Gean, e escrevo de uma cidadezinha chamada São José dos Quatro Marcos, localizada a 315km de Cuiabá, capital de Mato Grosso, e curso o quinto semestre de Direito na Universidade do Estado de Mato Grosso, campus universitário de Cáceres/MT. Desde antes do início do curso, em 2008, muitas inquietações permeavam a minha cabeça sobre o Direito e as questões afins. Acho que isso é algo até natural, já que a cabeça de um estudante de ensino fundamental, no alto de seus dezesseis anos, precisava buscar solução para seus conflitos internos e, por isso, encontrei seu blog.
Aliás, além de encontrar seu blog, encontrei a sentença “O celular do carpinteiro” e me rendi aos encantos desta diferente visão sobre o Direito. Essa visão constitucionalizada do Direito e da Justiça, que, aliás, deveria ser obrigatória a todos os “operadores” do Direito, é fantástica e escassa. E é por isso, portanto, que gostaria de agradecer-lhe e parabenizá-lo: por ser um espelho a uma gama de acadêmicos que pretendem, incansavelmente, perseguir a Justiça.
Mas, na realidade, não é este o motivo do e-mail que ora escrevo. Conforme mencionei, venho acompanhando seus escritos ao longo do tempo e percebo esta sensibilidade em analisar os fatos, não com a frieza que muitos insistem em adotar. E percebo, ainda, que, nestes mesmos escritos, o senhor vem mencionando uma série de autores que compartilham desta sua opinião. Daí, as tais inquietações a serem abordadas.
Não sei se a realidade baiana não é a mesma que a mato-grossense, mas o estudo acadêmico é pouco. Diria até insuficiente. Às vezes hoje, já no quinto semestre, sinto necessidade de aprofundamento nesta teoria. E, infelizmente, isso não ocorre aqui. Aliás, ocorrer até ocorre, mas os professores acabam por se tornar quase “extraterrestres”, que insistem em se distanciar cada vez mais dos acadêmicos. Uma das poucas vezes que a academia nos fez pensar foi quando dividiram nossa turma em grupos e, a partir disso, distribuíram casos difíceis, os hard cases, para serem solucionados, como se cada grupo fosse realmente uma corte constitucional de um país imaginário. Somente nesta ocasião é que vimos o sentido de o símbolo do Direito ser uma balança.
Depois, tentamos nos aprofundar na seara dos teóricos, estudando Ronald Dworkin e tentando debater suas teorias, isto já no quarto semestre. Veja só, após dois anos de faculdade, os professores vêm nos propor estes assuntos e esperam que saibamos discorrer sobre eles de forma natural. Para a minha mente de acadêmico isto seria quase impossível, já que passados estes dois anos nunca fomos incitados a nada do tipo.
É por isso que gostei do seu espaço virtual: alguém aparentemente “normal” (rs), que procura esclarecer as coisas da forma como pensa, que tem nexo em suas alegações e que é humano. Que não renega ou critica ou até mesmo ri da religião e da moral de cada um. Que discorda da opinião alheia, mas tem bons fundamentos para fazê-lo e não desfaz nenhum discurso de forma grosseira.
Receio que seu tempo seja corrido, que tem lá sua profissão, que por sinal é o sonho de muita gente, e que não tem muito tempo a disponibilizar para esta leitura alternativa de e-mails, até porque também acompanho sua agenda no rodapé de seu blog. Mas, ainda assim, gostaria de pedir-lhe algo um tanto quanto audacioso (rs). Daqui a dois anos e meio espero concluir meu bacharelado e serei jogado no “mercado de trabalho”, simplesmente com um diploma que não atesta realmente quem sou no âmbito profissional. Então, gostaria de pedir-lhe uma luz: começar a “engolir” teoria vai me fazer ser uma cabeça pensante? Preciso arrumar um tema de monografia, mas a minha faculdade é restrita à sua própria circunscrição: é possível que de lá saiam cabeças pensantes, buscando guarida em outros professores e doutores?
Então, já vi em seu blog uma série de doutrinadores renomados, que defendem ferrenhamente a Constituição e admiro muito isso. Gostaria até, se fosse possível, que eu desenvolvesse algum trabalho “de campo” nesta minha universidade, já que ela fica restrita tão somente aos seus muros e suas praças, não tendo contato direto com a população carente que permeia os bairros pobres da cidade e que às vezes precisa de instrução, em vez de consulta ou assistência, como muitos dizem, para resolver por si mesmos seus conflitos.
É isso. Foi mais um desabafo para alguém que, ao menos aparentemente, sabe ouvir e emitir um parecer respeitoso e respeitador. Novamente, obrigado por ter contribuído, mesmo que involuntariamente, para a formação deste neófito que busca constantemente o sentido de estar fazendo Direito.
Quem sabe num dia, não muito distante, possamos ter o prazer de ouvi-lo contar seus causos e suas crônicas aqui, em Cáceres/MT, para esse bando de acadêmicos que anseiam mudanças.

Grande abraço!
Gean Carlos Balduíno Júnior.



Notícias Do Brasil (Os Pássaros Trazem)

Milton Nascimento/Fernando Brant
Interpretação fantástica de Ney Matogrosso

Uma notícia está chegando lá do Maranhão.
Não deu no rádio, no jornal ou na televisão.
Veio no vento que soprava lá no litoral
de Fortaleza, de Recife e de Natal.
A boa nova foi ouvida em Belém, Manaus,
João Pessoa, Teresina e Aracaju
e lá do norte foi descendo pro Brasil Central
Chegou em Minas, já bateu bem lá no sul!

Aqui vive um povo que merece mais respeito!
Sabe, belo é o povo como é belo todo amor.
Aqui vive um povo que é mar e que é rio,
E seu destino é um dia se juntar.
O canto mais belo será sempre mais sincero.
Sabe, tudo quanto é belo será sempre de espantar.
Aqui vive um povo que cultiva a qualidade,
ser mais sábio que quem o quer governar!

A novidade é que o Brasil não é só litoral!
É muito mais, é muito mais que qualquer zona sul.
Tem gente boa espalhada por esse Brasil,
que vai fazer desse lugar um bom país!
Uma notícia está chegando lá do interior.
Não deu no rádio, no jornal ou na televisão.
Ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil,
não vai fazer desse lugar um bom país!

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