domingo, 9 de outubro de 2011

Tá no Estadão

AMAPÁ: SEQUELAS DE UM SISTEMA DOENTE
Bruno Paes Manso, enviado especial
Todo político corrupto deveria ser condenado a percorrer os corredores do Pronto Socorro de Macapá ou passar alguns dias internado no local para compreender os efeitos da corrupção no dia a dia. O local é um festival de assombros, lotado por causa dos cerca de 15 acidentes de trânsitos diários no Estado.
Pacientes repousam deitados no chão. No mesmo quarto, crianças se misturam a adultos. Páginas de jornal e de revista forram as janelas para tentar bloquear a entrada de sol. O ar condicionado não funciona e as salas, lotadas, transformam-se em saunas no clima úmido de 35 graus. Faltam equipamentos, remédios e funcionários.
Os enfermeiros aplicam injeções e fazem tratamentos delicados em corredores movimentados, prejudicados pelos esbarrões das pessoas que passam a todo momento. Olgailton Brito diz que precisou comprar um colchonete por R$ 45 para que seu irmão não dormisse em cima do ferro da maca. Cadeiras para visitantes e ventiladores são itens que precisam ser trazidos de casa pelos pacientes.
Garrafa – O agricultor Mauro da Silva Barata foi um dos que se acidentou em uma moto e precisou sofrer uma cirurgia na perna. Abandonado há 49 dias em uma maca no corredor do PS municipal, ainda não conseguiu vaga no hospital para ser operado. Como ele só consegue se levantar da maca com a ajuda de outros doentes, Barata precisa urinar em uma garrafa pet improvisada por causa da falta de papagaios. Ao ver a reportagem, ele pede ajuda e conta que a mulher e os filhos hoje passam fome porque dependem de seu salário.
No inquérito da Operação Mãos Limpas, são descritas fraudes em licitações e contratos envolvendo compra de remédios e alimentação para o PS e hospitais, consertos e compra de equipamentos de saúde, entre outros.
Sem ambulância. Complicações também atingem a Maternidade Mãe Luzia. Na semana em que o Estado foi ao local, faltavam antibióticos para os recém-nascidos da UTI neonatal, assim como alguns tipos de seringas, sondas e agulhas para anestesia. Os bebês doentes eram transportados em carros comuns por falta de ambulância.
Nas ambulâncias do Serviço de Atendimento Médico de Emergência (Samu), faltam placas para os desfibriladores desde dezembro do ano passado. Não há oxigênio nos carros, o oxímetro não funciona por falta de pilhas, uma porta teve a lateral amassada e permanece sem concerto, correndo o risco de abrir ao transportar um paciente.
Coleiras cervicais descartáveis são lavadas e reusadas. “Também precisamos pagar por nossos uniformes, cerca de R$ 200, apesar de recebermos salário mínimo”, diz Darlene Lobo, técnica em enfermagem do Samu. (Leia mais)
PARENTES DO GOVERNADOR SÃO CITADOS NO ESQUEMA
Sábado, 08 de Outubro de 2011, 14h31
Bruno Paes Manso, enviado especial
MACAPÁ – A mulher do atual governador do Amapá, Cláudia Camargo Capiberibe, foi assessora especial do presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), José Júlio de Miranda Coelho, acusado no inquérito da Polícia Federal de ser um dos articuladores dos desvios de recursos públicos no Estado.
De acordo com os documentos, os policiais federais concluíram que o emprego de parentes e aliados em diferentes instituições do Estado era uma das maneiras de manter a harmonia entre os Poderes e barrar as fiscalizações necessárias.
Em uma lista apreendida pelos policiais na casa de Miranda, com o nome de pessoas empregadas no gabinete da presidência do TCE, está citado um primo do governador, Jorney Souza Capiberibe, com a indicação do cargo – assessor especial – e o salário de R$ 6,1 mil. O nome do governador Camilo Capiberibe aparece ao lado, entre parênteses. (Leia mais)
FRAUDES NO AMAPÁ JÁ DESVIARAM PELO MENOS
R$ 1 BILHÃO DOS COFRES PÚBLICOS
Sábado, 08 de Outubro de 2011, 14h16
Bruno Paes Manso, enviado especial
MACAPÁ – O esquema de ataque aos cofres públicos instalados nas instituições públicas do Amapá desviou pelo menos R$ 1 bilhão nos últimos dez anos e continua funcionando nos dias de hoje. Os números e as conclusões são do inquérito final da Operação Mãos Limpas da Polícia Federal, desencadeada em setembro de 2010. As investigações, os documentos, vídeos, fotos e escutas foram analisados por policiais e peritos ao longo deste ano e mandados ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
As mais de 2 toneladas de material apreendidas mostram irregularidades grosseiras, com indícios de crimes que revelam um ambiente de impunidade, no qual políticos, autoridades e empresários não pareciam se importar em deixar rastros. São desde saques milionários e mensais de verba pública tirados na boca do caixa a superfaturamentos em todos os contratos analisados do governo estadual e da Prefeitura de Macapá.
Suspeitas do assassinato de um policial federal e de pedofilia também apareceram na investigação. O Estado teve acesso ao inquérito e percorreu o Amapá na semana passada para compreender a dimensão e os efeitos dos desmandos.
De acordo com o inquérito da PF, a inteligência do esquema consistiu principalmente em envolver integrantes de todas as instituições amapaenses, distribuindo cargos e dinheiro do Orçamento estadual. A base dos recursos do Amapá – R$ 7em cada R$ 10 – vem de repasses federais.
Foram encontrados documentos que apontam envolvimento de integrantes do Tribunal de Justiça do Amapá, da Procuradoria-Geral do Estado, do Ministério Público, passando pelos deputados da Assembleia Legislativa, funcionários de todos os escalões dos Executivos estadual e municipal, incluindo governador e prefeito, sem falar em uma ampla rede de jornalistas.
“Sempre houve no Amapá a chamada harmonia entre os Poderes. Instituições encarregadas de se fiscalizar atuam em parceria e ninguém fiscaliza ninguém”, diz o funcionário público Ednaldo Batista, organizador do Movimento Mãos Limpas. (Leia mais)

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