sexta-feira, 27 de maio de 2011

O BAR FECHOU!!!!!


Lembram que no dia 29 de abril mostrei que num mesmo prédio funcionavam uma escola e um bar?
Ressaltei que há uma lei que proíbe bares a menos de cem metros das escolas.
O post  foi repercutido em vários veículos de comunicação.
Daí não teve outro jeito a não ser cumprir a lei.
De acordo com o jornal “a Gazeta” o assunto gerou polêmica e depois de uma série de conversas entre a Secretaria de Educação e o proprietário do prédio o bar finalmente foi fechado na última quarta-feira.

"Apenas preocupado com o caos lá do outro lado"

Então eu acho que todo indivíduo que mexe com a área de humanas tem uma quedinha pelas artes. E hoje eu estava pensado, no CAOS que o nosso judiciario tem passado, ou melhor, levado na marra. E não só eu, mas acredito que a grande maioria da sociedade de alguma forma ou de outra. Onde no Jornal da manhã, enquanto tomamos o café, a gente vê a notícia de mais um assassinato e apenas paramos a xícara um estante no meio do movimento, depois continuamos a levá-la até a boca. E assim, me lembrei desta musica do Fernando, que retrata bem esse nosso conformismo, até pela propria estória dela. 



PELA CAUDA DE UM COMETA



Este é o esboço da letra "Pela Cauda de Um Cometa" que, por não achá-la boa o bastante, Fernando Canto, jogou fora numa lixeira do Bar do Abreu.

Nivito Guedes, meu velho parceiro e ganancioso que só ele por uma letra para musicar, tirou-o do lixo e fez a bela música que a Juliele gravou com sua divina voz.

Procurei o video, na internet achei mas ñ consegui postar aqui, se por acaso alguem se interessar, está aqui:

http://www.youtube.com/watch?v=v0HbdXGkJT0&feature=player_embedded


Eis e letra:


Eu pareço apenas preocupado
Com o caos lá do outro lado
Que aquece todo mal
O sal vem do oceano
As lágrimas pra terra
O nosso amor se encerra
Bem antes do fim do ano

O sol já canta a manha da chuva
Na noite enclausurada
Nas luzes dos faróis
Um coro
Canta as lágrimas carentes
Do amor que ainda sentes
Mas que esta no final

Baby
Eu quero que você coopere
Com a vida do planeta
Nunca mais se esconda
Pela cauda de um cometa

Oh! Baby, baby...
Oh! baby
O mundo tá perdido
Com o sumiço do cupido
Que eu flechei com um tiro certo
Pro gelo derreter

quinta-feira, 26 de maio de 2011

O CASO PIMENTA NEVES É O PIOR DO JUDICIARIO BRASILEIRO

A prisão de Antônio Pimenta Neves, 11 anos após ter assassinado a ex-namorada Sandra Gomide no interior de São Paulo, para cumprir pena, representa o desfecho de um caso emblemático dos desvãos judiciais que, bem explorados, se tornam eficaz instrumento para protelar a ação da Justiça no país. Se, por alguma nova manobra, o jornalista voltar a se livrar da obrigação de ajustar contas com a lei, escapando da detenção, isso apenas reforçará uma evidência que todo esse episódio encerra. Quando se tem bons advogados, e obviamente condições financeiras para contratá-los, pode-se postergar o cumprimento de uma sentença até o limite que, não poucas vezes, alcança a prescrição da pena. Embora nem sempre verdadeira, a analogia com a versão popular dessa dedução - no Brasil, só o pobre vai preso - é irresistível.
Os advogados de Pimenta Neves souberam explorar à exaustão os descaminhos judiciais em busca da impunidade. Assassino confesso de um crime premeditado e friamente executado em agosto de 2000, quando era diretor de redação de “O Estado de S. Paulo”, o jornalista só ficou preso na fase inicial do processo, por poucos meses, de setembro daquele ano a março de 2001, quando o Supremo Tribunal Federal concedeu-lhe habeas corpus, para aguardar o julgamento em liberdade.
Seguiu-se, a partir daí, o rito que, pela protelação (por meio de recursos previstos na legislação, registre-se), costuma levar à inimputabilidade de fato. Ele foi, enfim, condenado em 2006, e, desde então, sua defesa impetrou nada menos que 20 recursos junto ao STF e ao STJ. Ao negar agora a derradeira apelação do réu, o Supremo brecou a manobra.
Qualquer que seja o passo seguinte desse processo, o longo prazo decorrido entre o crime e o ajuste de contas do jornalista com a sociedade expõe com clareza o lado permissivo (ainda que não desejado) da Justiça brasileira. A morosidade, mal crônico nos tribunais, é aliada da esperteza que se alimenta de dispositivos que permitem a postergação da execução de sentenças.
Acrescente-se a isso a existência de um gargalo nas cortes, onde se acumulam incontáveis processos - fruto, entre outras coisas, também da interposição de seguidos instrumentos protelatórios. São iniciativas legítimas, mas que acabam por desfigurar a essência do direito de defesa, cláusula da Constituição: dá-se ao réu a indiscutível presunção da inocência, princípio que, no caso de um assassino confesso como Pimenta Neves, chega ser curioso. A lentidão nos ritos processuais é objeto de seguidas ações do Conselho Nacional de Justiça. O órgão tem cobrado presteza na tramitação de processos e estabelecido metas para desafogar as pautas dos tribunais, com resultados estimulantes. Os tribunais precisam mesmo melhorar seus sistemas administrativos.
A protelação de contas a acertar com a Justiça tem repercussões na esfera política. Há casos de réus no gozo do direito a foro especial que a ele renunciam para transferir o processo à Justiça comum. Dessa forma, se beneficiam de novos prazos e da secular lerdeza das Cortes, para alcançar a prescrição. É a cultura da impunidade, com a qual o Judiciário não pode compactuar. Cumpre, portanto, combater o pior da Justiça brasileira, no desestímulo de chicanas como as que, até aqui, beneficiaram Pimenta Neves.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Você sabia que aconteceu uma reunião do MEC no seama e que o corpo geral dos estudantes não vou avisado????

É isso mesmo, houve uma reunião do MEC sobre a qualidade da educação e qualidade de atendimento geral prestado ao academico, NA SURDINA. Mas o que mais me impressionou foi o quanto muitos conselheiros de classe ficaram calados, teve gente que não abriu a boca nem para dizer que ia ficar calado, ao invés de fazer o seu papel e representar os estudantes pelos quais foram democraticamente eleitos. 
Eu mesmo só soube da reunião porque fui pregar um cartaz, na sala que por coincedência iria ser realizada a reunião. Eu só espero que os representantes de turma comunhiquem quem os elegeu, sobre o que ocorreu na pelegada reunião. É o minimo a fazer.
Mas desconfiado que sou, desde já comunique, alguns assuntos que foram descultidos:
- O CONSUR - se por um acaso alguem souber o que significa "consur", é um grande sortudo, e mais sortudo ainda se souber que houve uma eleição para as tres cadeiras pertencentes aos estudantes e que estudantes novamente na SURDINA, foram eleitos, (eu sabia, mas anulei meu voto por ñ conhecer os candidatos) e meu amigo a possibilidade de você ganhar na mega-sena é muito grande, se voce votou, ou teve a oportunidade de conhecer antes da eleição os candidatos. Ah, CONSUR, significa conselho superior. É um conselho que tem direito de meter o dedo nas decisões da instituição, TEORICAMENTE.
- A DESMOTIVAÇÃO DOS ALUNOS - Essa foi uma questão muito bem colocada, no sentido de que a desmotivação é tão grande que teve "representante" de classe que tem a absurda opinião de que por exemplo, a faltade informação da realização do CONSUR é dos alunos de não irem atras de informação, quando na realidade a instituição tem A OBRIGAÇÃO de tornar publico a eleição para o CONSUR já que este é um orgão de deliberação da instituição. RIDÍCULO!!!!
- A PROVA DA OAB - este assunto foi tocado secundariamente, mas acho de profunda relevancia para nós. Na minha opinião, a OAB na realidade está fazendo o trabalho do MEC que é de dizer quais as universidades que tem consdições de colocaram profissionais competentes nas ruas, me desculpe a familia Scapin mas a Seama não é uma delas, visto que ano passado apenas uma concluinte passou de primeira no exame de ordem, acho ainda que isso é resultado da falts de incentivo a pesquisa dentro da instituição, onde se o aluno quiser apresenta-la em um congresso fora do Estado ele tem que custear inteiramente, os custos do trabalho, MAS no entanto, ele é obrigado a colocar no trabalho a instituição a qual pertence. Legal né!!! Super comodo, pra faculdade.
O que nós temos que intender é que hoje foi trocado a qualidade pela quantidade, nós estudantes do direito por exemplo, estamos sendo transformados em almoxarifes e não em operadores do direito, onde quando nós precisamos de alguma coisa nós vamos a nossa estante, e a mais proxima de preferencia, e pegamos o produto pronto, ou seja, nós não somos mais incentivados a pensar, e consequentemente a nossa e as universidades  de todo Brasil, publicas e privadas, não contribuem como deveriam para o desenvolvimento do país. E o resultado disso é o engessamente do nosso sistema judiciario. 
Gente eu cheguei ao absurdo de escutar que a universidade é boa porque tem professor em sala de aula. desde de quanto professor humilhado, subjugado com aumento de 1,60 reais esta motivado e desde de quanto o direito consiste apenas em livros e leituras dentro de salas de aula. Pensem , pensem porque a situação esta seria,e nós estamos todos sitiados.

Pessoa não bem - vinda!!!

Por  Dorinaldo Malafaia. Presidente do SINDESAUDE. Bacharel e licenciado em enfermagem
 
              Assistindo ao globo reporter sobre o Butão (país) , me chamou atenção a importância da felicidade na vida desse povo. Eles criaram um ministério da felicidade, e o índice de felicidade interna bruta. Para medi – la, um desses indicadores é o aproveitamento do tempo como valor a ser utilizado para o desenvolvimento humano.

             Aos ver isso, rapidamente  me veio a lembramça a reunião que tive com três secretário do governo do PSB, entre o tema principal, que era a negociação salarial dos trabalhadores da saúde , fiquei atento ao conceito apresentado pelos porta vozes oficiais do governo acerca de como enchergam o seu Povo, mas especificamente o servidor público como parte integrante da população.

              Para eles os servidor público é um privilegiado – palavras do secretário Evandro Gama (PT),  ele em especial,  foi categórico ao afirmar que a linha do governo é o combate ao privilégio e que para isso uma das medidas mais brilhantes era estabelecer dois turnos de trabalho ao servidor. Para eles isso é sinônimo de bom atendimento e produtividade.

              No horizonte, eles echergam também, o tão anunciado combate a corrupção. Aí relembrei  o adormecido conceito socialista da mais- valia, que representa justamente, a tradução da exploração do trabalhador quando o patrão extrai dele, mais que  o tempo últil na produção de um determinado trabalho ou produto – grosso modo faço essa comparação para resgatar, o valor apresentado pelo pequeno Butão sobre o aproveitamento do tempo  e a sua ultilização com a família, cultura, estudo etc… .

               A improdutividade do serviço público em nada tem haver  com a quantidade de tempo trabalhado e sim com anos a fio de desmonte, sucateamento da máquina pública e a falta de gerência.

               A corrupção, me parece, não ter no servidor público sua força motriz e sim na combinação do corrupto (agente político) na maioria das vezes representada por gestores comissionados e no corruptor, lobysta ou empresário que se enraiza na estrutura pública  montando a rede de corrupção, situação inerente ao capitalismo.

                Evandro Gama como secretário de  saúde anda na contra mão da luta histórica dos trabalhadores pela redução da jornada de trabalho e consolida a idéia de persona non grata para os servidores da saúde. Nós pelo jeito, andaremos com predras nas mãos.

terça-feira, 24 de maio de 2011

A LEI É FILHA DA HISTÓRIA - Idéias sobre a função social da terra.




A LEI É FILHA DA HISTÓRIA
Idéias sobre a função social da terra.
Gerivaldo Alves Neiva *
Sei que causa um choque danado nas pessoas essa história de que a função social da terra é essencial ao próprio conceito de propriedade da terra. Isto significa dizer que não existe propriedade rural a ser protegida, ou mesmo desapropriada, sem o cumprimento de uma função social. Para a mentalidade proprietária burguesa, realmente é um choque:
- Como não ser mais o proprietário e ter meu direito protegido se minha escritura está registrada em cartório? Como não posso expulsar invasores se minha terra é cercada há mais de 20 anos?
Sim, é verdade! Escrituras antigas e amareladas e cercas cercando o nada não bastam mais para garantir a propriedade de imensidões de terra sem cultivo algum. A pós-modernidade exige muito mais do que isso, pois é na terra que são produzidos alimentos para o mundo e é na terra que estão os recursos naturais essenciais à própria sobrevivência da raça humana sobre o planeta. Ao contrário do que pensam os proprietários que ainda guardam escrituras furadas de traças em caixas de sapatos e que apenas renovam suas cercas de ano em ano, a terra não é do homem, mas é o homem que pertence à terra e é quem tem a obrigação de cuidar dela.
Choque maior ainda causa a defesa da idéia de que a ocupação de terras improdutivas - ou mesmo que estejam produzindo em desconformidade com os preceitos constitucionais exigidos para reconhecimento do cumprimento da função social – é ação legítima em busca da concretização do projeto humano sobre o planeta e do projeto constitucional de construção de uma sociedade livre, justa e solidária, fundamentada na cidadania e dignidade da pessoa humana.
Estes choques são resultados da idéia que todos nós temos de que sempre foi assim e que se a lei diz que é verdade, tem que ser verdade. O que pensamos, embora nem sempre saibamos disso, é o que nos ensinou a família, a escola, a igreja, os meios de comunicação e as leis. Então, pensando que temos um pensamento próprio, construímos ‘pré-conceitos’ sobre quase tudo e passamos a defendê-los como verdades definitivas e convenientes. Nem sempre percebemos que ao invés de personagens reais, não passamos de marionetes manipulados pelos Jornais Nacionais da vida. Aliás, que seria de nós ocidentais católicos sem as novelas da tarde, das seis, das sete e das oito? Sem os comerciais da TV? Sem o big brother? Sem futebol aos domingos e sem salão de beleza aos sábados? O problema é que enquanto estávamos cantarolando que queríamos ser uma “metamorfose ambulante”, como pregava o rebelde Raul Seixas, o sistema nos transformava, a todo o momento, em uma “mentalidade imutável”.
De todas as mentalidades, talvez a mentalidade proprietária seja uma das mais fortes que carregamos. Não conseguimos sobreviver sem a idéia da propriedade. Precisamos da propriedade. Precisamos ‘ter’ alguma coisa. Quem não tem, no mundo capitalista, é pobre, sem teto, sem terra, sem emprego e sem dignidade. Então, é imprescindível ter a propriedade de alguma coisa. No mínimo, precisamos ter o conhecimento formal de alguma área das ciências para conseguirmos um emprego. Quem não tem conhecimento não tem emprego e, por conseqüência, não tem propriedade de nada. A lógica capitalista é esta: precisamos ter conhecimento para ter emprego, dinheiro, carro, casa, telefone celular, notebook... nossas propriedades! Nesta lógica, só é importante ‘ser’ se for para ‘ter’!!
Mas nem sempre foi assim. Já houve tempo em que todos ‘eram’ e cada um tinha apenas o necessário para sua própria sobrevivência e de sua família. Não havia necessidade de acumulação de riqueza, da mesma forma que não havia necessidade de acumulação de propriedades. O que se produzia se consumia e o desperdício era algo incompreensível. Logo, só era necessário se produzir o que se iria consumir, pois não havia como conservar o excesso da produção. Assim perdurou até que o dinheiro foi inventado. Agora, o excesso da produção passou a ser vendido e o resultado dessa venda – o dinheiro – passou a ser usado para comprar terras e outros bens. Estava, portanto, justificada a propriedade da terra para além da necessidade da família como sendo o fruto do trabalho humano.
Ora, sendo assim, no início, como definiu o filósofo inglês John Locke, tudo era a América. Por aqui não havia o dinheiro e, consequentemente, não havia necessidade de se acumular nada. Os índios caçavam, pescavam e produziam o que necessitavam para sua própria sobrevivência. A terra significava apenas o local da produção do alimento, principalmente a mandioca. Nada mais. Ninguém precisava mais de terra do que aquela necessária à produção de alimentos para a tribo. Não havia cercas, currais de gado e nem documentos de terra.
Pois bem, assim aconteceu até que o homem civilizado e católico, por acaso ou intencionalmente, achou estas terras brasileiras. Em termos de convivência, aqui também não era o paraíso e é certo e histórico que os Tupinambás eram guerreiros e a guerra era o significado da sua existência. Um Tupinambá era formado para a guerra, independentemente de quem fosse o inimigo. O importante era lutar e depois banquetear, em festiva cerimônia, o guerreiro inimigo aprisionado para adquirir mais força e poder. Os Tupinambás lutavam contra os Tupiniquins, Tupinaés, Tapuias e contra quem mais se colocasse à sua frente, inclusive portugueses. Com estes, a guerra foi desleal e somente no recôncavo baiano, milhares de Tupinambás foram mortos por Álvaro da Costa, filho do governador Duarte da Costa, e por Mem de Sá, terceiro governador geral, sob as bênçãos do bispo Sardinha. Aliás, por ironia da história, o bispo Sardinha, o primeiro do Brasil, será também banqueteado pelos Caetés na Barra de São Miguel, costa do atual Estado de Alagoas. Dizem as más línguas que no local em que o bispo Sardinha foi assado não nasceu mais qualquer erva daninha. A antropologia moderna, no entanto, questiona a veracidade desta comilança do bispo. Ora, se os índios comiam outro guerreiro para adquirir sua força e coragem, por que comeriam um bispo velho, barrigudo e branquelo?
É muito intrigante imaginar que a Igreja considerava pecado andar sem roupas e ter várias mulheres, mas não era pecado escravizar e matar os “gentios” ou escravizar negros africanos. Às vezes fico pensando que Deus deve perder tanto tempo buscando justificativas para perdoar os pecados da Igreja que não sobra tempo, apesar da sua onipotência, para cuidar dos problemas menores dos pobres do mundo. Mas isto não é privilégio de uma época. A história da humanidade é permeada de ações católicas que devem ter “enchido o saco” de Deus. Na inquisição, por exemplo, não sei como Deus não morreu de vergonha da Igreja. Como dizia uma freira amiga, “certos Papas só vão para o céu quando morrem por conta da infinita misericórdia de Deus”.
Voltando ao nosso caso, antes da invenção brasileira baseada na propriedade da terra em grandes proporções para uns poucos, tivemos outras oportunidades para inventar uma nação diferente, baseada na liberdade dos costumes, sem regras morais católicas, sem propriedade privada, sem roupas, sem repressão... certo que os Tupinambás eram guerreiros, mas também era possível conviver com eles, como assim fizeram os franceses por muitos anos.
A primeira oportunidade de invenção de uma nação brasileira baseada na liberdade e no folguedo foi a deserção de dois grumetes da esquadra de Cabral - há quem diga que foram mais de dois - e alguns degredados que por aqui ficaram, deslumbrados com o novo mundo, quando Cabral, depois da primeira missa, seguiu em busca de um caminho para a Índia. Dizem também que alguns Tupiniquins seguiram com a esquadra em direção à Índia e outro embarcou na nau que retornou para Portugal levando a boa nova do “achamento”. Não sei o que aconteceu com o Tupiniquim que foi conhecer a corte, mas há notícias de que os outros morreram em um naufrágio no Cabo das Tormentas, que depois passou a ser chamado de Cabo da Boa Esperança.
Voltando a nossa história, o certo é que ficaram entre os Tupiniquins, em abril de 1500, alguns homens brancos com sua história, cultura e costumes em meio aos índios e índias. Fulerando, folgando, tomando banho de rio, tomando cauim... Pois bem, vamos imaginar que Cabral e outros navegadores da época – Colombo, Vespúcio, Magalhães... – tivessem se deparado com grandes monstros marinhos e abandonado os mares por cinqüenta ou cem anos. Ora, nossos Tupiniquins saberiam da existência de homens brancos que viajavam em grandes barcos e teriam alguns deles em sua companhia, mas continuariam vivendo e evoluindo segundo sua própria lógica e costumes. Pois é, o Brasil bem que poderia ter sido inventado por índios, grumetes desertores e degredados. Todos folgando e tomando cauim... Não deu certo.
Poucos anos depois, por volta de 1510, não se sabe ao certo como, apareceu nas praias de Salvador um náufrago, o português Diogo Álvares, a quem os Tupinambás chamaram de Caramuru, que logo se juntou com a bela índia Paraguaçu. Dizem que Caramuru tinha outras mulheres índias, apesar de sua moral católica, e que teria deixado dezenas de mamelucos no recôncavo baiano. Para Diogo Álvares, era pecado ter mais de uma mulher e andar sem roupas por aí, mas para Caramuru certamente era importante aproveitar da hospitalidade dos Tupinambás. Pois é, o Brasil bem que poderia ter sido inventado por índios Tupinambás, Caramuru, Paraguaçu e sua descendência, sem pecado, sem propriedade e sem dinheiro... Não deu certo.
Além de Caramuru, outro náufrago português viveu com os índios antes da chegada da expedição de Martim Afonso de Sousa, em 1530. Conta a história que João Ramalho teria chegado ao litoral paulista em 1513 e tivera vários filhos com a índia Bartira, filha do cacique Tibiriçá, da tribo dos Guainases. Como era de costume, João Ramalho também deixou dezenas de mamelucos no planalto paulista. Não sei se Caramuru e João Ramalho se conheceram ou se tiveram contatos com os degredados e grumetes de Cabral, mas a conta já é grande de portugueses e mamelucos no Brasil antes do início oficial da ocupação, em 1530. Não é loucura pensar, portanto, que Caramuru e João Ramalho bem que poderiam ter se encontrado para selar a paz entre os Tupinambás e seus inimigos. Neste clima de paz, quem sabe, os índios unidos teriam resistido à ocupação e hoje o Brasil seria um país com dezenas de línguas, culturas diversas, sem nordeste pobre e sudeste rico, com uma vasta mata atlântica, rios limpos... não deu certo também.
Estavam perdidas, portanto, as oportunidades históricas de uma invenção diferente para o Brasil. Nosso destino seria mesmo o ufanismo de Brasil potência e daquela história mais recente: “Brasil, ame-o ou deixe-o”!
O fim dessa história todos nós sabemos. O Brasil foi inventado, dezenas de anos depois do “achamento”, para plantar cana-de-açúcar, criar gado, exterminar os índios selvagens, escravizar negros africanos, explorar o ouro e estabelecer a propriedade privada da terra através de capitanias hereditárias e imensas sesmarias. Poderia ter sido diferente, mas não foi. A história que se conta hoje é a história dos vencedores. A história que se conta é a de Cabral, Martim Afonso, Tomé de Sousa, Duarte da Costa, Mem de Sá, das capitanias e das sesmarias. Índios, degradados, posseiros, negros, pequenas posses de terra e os demais vencidos não tem história para a historiografia, mas ainda podem resgatar um dia a sua própria história.
Tudo isso, por fim, foi para dizer que nem sempre foi assim, que poderia ter sido diferente e que pode ser diferente hoje. A mentalidade proprietária é uma invenção burguesa da mesma forma que também o é a lei criada para proteger esta propriedade. Portanto, isto a que nos apegamos hoje como sendo um direito natural, não passa de uma construção histórica recente, uma invenção, uma criação daqueles que ocuparam as terras e mataram os que aqui já estavam.
Sendo assim, falar em função social da propriedade da terra, em vista da história da invenção brasileira, não é coisa de outro mundo, mas desse mundo brasileiro mesmo. Se já fomos – lá eles – capazes de inventar uma nova forma de relacionamento com a terra, também podemos inventar outra. A história é assim. Vem uma idéia nova e vai uma idéia velha. O novo nasce do velho, que resiste até morrer. Daí, começa tudo de novo... O importante é ter em mente que o presente é diferente do que já ‘foi’ e o que ‘virá’ também será diferente do que ‘é’ e do que já ‘foi’. Isto é inevitável, apesar de uns e outros.
E a lei? Ora, lei vem e lei vai. Para cada tempo há uma lei. Não é a lei que determina o tempo e a história. Ao contrário, a lei é o resultado da superação das contradições da história. Se existe dúvida em relação a quem nasceu primeiro, se o ovo ou a galinha, o mesmo não se pode dizer em relação à lei e a história. A lei é filha da história. Assim sendo, aqueles que lutam fazem a história e os que ficam apenas observando escrevem a lei. Vai ser sempre assim, eu acho...
Voltando ao começo da conversa, eu não entendo como alguém pode ainda pensar, nesta quadra da história, que é o “proprietário” de uma vasta extensão de terra simplesmente por conta de uma escritura registrada em cartório ou por conta de quilômetros de cerca de arame farpado cercando o nada. E o pior: continuam pensando que o Direito existe para proteger sua “propriedade” contra os “não-proprietários”. E o pior de tudo: muitos juízes ainda pensam que é assim mesmo!

Conceição do Coité, 23 de março de 2009
* Juiz de Direito em Conceição do Coité – Ba.

Gitas!! - "tem gente q diz q só ñ foi preso pq sempre conservou as mãos bem sujas"

Em relação às notícias veiculadas hoje, 23 de maio, sobre a prisão de servidores da Superintendência Federal da Agricultura no Amapá, na operação Mãos Limpas, realizada em conjunto pela Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento vem prestar os seguintes esclarecimentos:
• O Ministério constituiu comissão para instauração de Procedimento Administrativo Disciplinar com o objetivo de investigar a conduta dos servidores da Superintendência Federal de Agricultura no Amapá detidos pela Polícia Federal.
• A comissão vai recomendar o afastamento dos servidores implicados e a nomeação de um interventor para assumir a direção da Superintendência.
Entre os presos hoje pela Polícia Federal, em desdobramento da “Operação Mãos Limpas”  está  Ruy Santos Carvalho. É ele, como titular da Superintendência Federal da Agricultura era quem homologava os resultados das licitações.
As licitações, de acordo com investigações da PF e Controladoria Geral da União, eram fraudulentas.
Esta é segunda vez que Ruy Santos Carvalho é preso pela PF. A primeira foi na primeira fase da Operação Mãos Limpas, em 10 de setembro do ano passado. Na época a PF apontou que ele praticava “ilícitos extravagantes no desvio de recursos da União”, como superfaturamento na contratação de empresas de prestação de serviços.
Naquele dia Ruy Santos Carvalho foi preso com mais 17 pessoas, entre elas os ex-governadores Waldez Góes e Pedro Paulo. Todos foram recambiados para Brasília, uns cumpriram prisão na  carceragem da PF e outros no presídio da Papuda. Quatro dias depois, Ruy Santos Carvalho e outros onze presos ganharam alvará de soltura e retornaram a Macapá.
Presos temporariamente na manhã de hoje pela Polícia Federal, Luiz Carlos da Silva Nascimento, Aldenora Pontes da Silva e Eulina Gomes dos Santos prestaram depoimentos e foram liberados.
As seis pessoas que foram presas preventivamente serão recambiadas para o Iapen.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Mãos Limpas – 9 pessoas foram presas hoje

Deflagrada em 10 de setembro do ano passado pela Polícia Federal, a Operação Mãos Limpas continua tendo desdobramentos. Hoje os alvos foram as superintendências federais da Agricultura e da Aqüicultura e Pesca.
Foram cumpridos  seis mandados de prisão preventiva, três mandados de prisão temporária e 10 mandados de busca e apreensão, nos dois órgãos, empresas e casas de servidores públicos. Os mandados foram expedidos pelo juiz federal  Anselmo Gonçalves da Silva.
Entre os presos estão empresários e servidores públicos. Alguns deles já foram presos em outras operações e em outras fases da “Mãos Limpas”.
Como desdobramento da Operação Mãos Limpas, depois que os peritos da Polícia Federal analisaram documentos de órgãos públicos, o ministro Otávio Noronha determinou que novas investigações fossem feitas, desta vez na Superintendência Federal da Agricultura e na Superintendência Federal da Aqüicultura e Pesca. Nessas investigações a PF contou com o apoio dos auditores e técnicos da Controladoria Geral da União (CGU).
O trabalho realizado pela CGU mostrou uma série de irregularidades nos dois órgãos, principalmente no que se refere a processo licitatório. O relatório da CGU aponta fraudes nas licitações para aquisição de materiais de expediente e de limpeza. As licitações, na maioria das vezes, eram dirigidas. As empresas “vencedoras” recebiam a totalidade do valor mas entregavam apenas uma pequena parte do material. Ainda não se sabe qual o montante do rombo.

Eis a relação dos presos:
Raimundo dos Santos Cardoso – Prisão preventiva
Ruy Santos Carvalho – Prisão preventiva
Luiz Carlos da Silva Nascimento – Prisão temporária
Rafael Costa Quaresma – Prisão preventiva
Luiz Carlos Pinheiro Borges – Prisão preventiva
Aldenora Pontes da Silva – Prisão temporária
Luiz Lopes Lacerda – Prisão preventiva
Laércio da Silva Araújo Junior – Prisão preventiva
Eulina Gomes dos Santos – Prisão temporária
Mais informações ao longo do dia

domingo, 22 de maio de 2011

Processo de merda

A 1ª câmara de Direito Criminal do TJ/SP negou provimento a apelo interposto por um homem que “defecou sobre os autos do processo, protestando contra a decisão dele constante”.
O homem respondia a um processo crime, perante a 5ª vara Criminal da Comarca de Jaú/SP, e teve como proposta a suspensão condicional do processo mediante algumas condições, dentre elas o comparecimento mensal em cartório. Por várias vezes ele cumpriu esta condição.
No entanto, quando do último comparecimento, solicitou ao funcionário os autos do controle de frequência para assiná-los. E, “intempestivamente”, pediu para que todos se afastassem, abaixou-se em frente ao balcão de atendimento, “arriou as suas calças e defecou sobre referidos autos, inutilizando-os parcialmente”.
Segundo relatório do desembargador Péricles Piza, “não bastasse isso, acintosamente, teria passado a exibir o feito a todos os presentes”. Para o magistrado, ficou evidente ao réu “a deliberada intenção de protestar contra a decisão constante dos autos”, mas ele ressalta que “a destruição dos autos, defecando sobre os mesmos, não é meio jurídico, lícito ou razoável de protesto.”

A fonte do Direito são as sogras dos Juízes: o final feliz é mentiroso!


Warat e eu, em Salvador
A FONTE DO DIREITO SÃO AS SOGRAS DOS JUÍZES[1]
 O final feliz é mentiroso. (Warat)

Gerivaldo Alves Neiva [2], maio/2011

Quando vejo todas essas manifestações de estudantes aprovados em vestibular, a exemplo de cabeças raspadas, trotes os mais diversos e comemorações em família, penso imediatamente também na minha chegada à faculdade de Direito, em 1980. No meu primeiro dia de aula, um “veterano” se fez passar por professor e nos mandou tomar nota das expressões mais esdrúxulas. Na aula verdadeira, um professor sisudo, terno bem cortado e sempre abotoado, falou-nos sobre a grandeza da “ciência do Direito” e algo parecido com “ubi societas, ibi jus”, ou seja, nós não tínhamos mais saída: onde houvesse sociedade organizada, inevitavelmente haveria o Direito.
Os primeiros assuntos aprendidos estavam sempre relacionados à grandiosidade do Direito na sociedade e na eloquência de sua linguagem. Aquele tal professor sisudo nos embeveceu por algumas aulas discursando sobre o tópico “terminologia jurídica”. Uma glória! A bibliografia recomendada tinha os títulos mais grandiosos que um curso universitário pode ter: notas introdutórias, compêndio, manual, curso disto e daquilo... Mas, na verdade, o que nos fascinava mesmo eram os códigos! Sonhávamos com o dia em que seríamos “obrigados” a trazer os códigos para a aula. Aqueles livros grossos, letrinhas pequenas, papel bíblia e capas com tipos dourados eram quase um fetiche.
As disciplinas propedêuticas passaram despercebidas. Queríamos estudar as leis. Saber os crimes e as penas, sucessões, casamento, contratos, obrigações, direitos trabalhistas... Depois de algum tempo apareceram alguns livros da turma de juristas do Rio Grande Sul, Santa Catarina e Brasília. Eram discussões sobre o Direito Alternativo, a Nova Escola Jurídica e o Direito Achado na Rua. Foram leituras inquietantes e nos despertaram para a possibilidade de um uso “alternativo” ao Direito que estávamos estudando, mas não nos incitava, ainda, para a possibilidade de um “novo” Direito.
Saí da faculdade em 1984 e logo em seguida, ainda em crise com o Direito, buscando sempre novidades, embora fazendo uma advocacia de “combate”, como defendia Roberto Lyra Filho, fiquei encantado com o título de um livro: A Ciência Jurídica e seus dois maridos. Daí, seguiram-se outros mais instigantes ainda: Manifesto do Surrealismo Jurídico, O amor tomado pelo amor, Por quien cantam las sirenas, Surfando na pororoca etc. E o autor desses livros? O argentino mais baiano e brasileiro chamado Luis Alberto Warat.
Muito mais do que títulos invocados, os livros e textos de Warat nos convidava a pensar o Direito de forma diferente. Enfim, era a primeira vez que pensávamos o Direito para além do mero estudo e aplicação das leis. E mais: para além da aplicação alternativa da lei, ou contra a lei, como defendia o Direito Alternativo, agora tínhamos a oportunidade de questionar o que até então conhecíamos como Direito, ou seja, uma ciência baseada apenas na norma. Além disso, para nosso deleite, Warat criticava com força o ensino jurídico do qual nos todos éramos vítimas. Enfim, um ensino jurídico que não nos permitia a transgressão, pois “é difícil perder-se”, como dizia Warat.
No Manifesto do Surrealismo Jurídico, por exemplo, Warat resume assim a diferença entre a pedagogia tradicional e a pedagogia surrealista: “a pedagogia tradicional, baseada na angústia da perda, é um instrumento de controle apoiado no sufocamento da imaginação criativa. Nessa forma de ensino, toda criatividade será castigada. Na pedagogia surrealista isso não acontece. Nela o fundamental será o desenvolvimento da criatividade, dos afetos e dos sonhos.” Em seguida, provoca os professores: “O professor precisa ajudar o aprendiz existencial a transformar o saber num sonho criativo e não deixa-lo com a passividade de uma vaca olhando o trem passar.” A sala de aula, no delírio surreal de Warat, seria “convertida num espetáculo sem passarela. Um lugar onde não existisse mais separação entre a voz do mestre e os ouvidos anestesiados dos alunos. Todos protagonizando a compreensão de seus vínculos com a vida, no plural do fantástico.”
Em “A Ciência Jurídica e seus dois maridos”, Warat se utiliza do romance do Jorge Amado para discutir as “máscaras” do trio famoso (Dona Flor, Vadinho e Teodoro) e desafia os juristas: “Poderão os juristas, como dona Flor, construir uma máscara de Vadinho que incite sua criatividade, que lhes provoque um ardente aspiração à extrema liberdade das ideias? Poderão proteger a criatividade mais que a propriedade”?. É também nesta obra que Warat discute a proposta de “carnavalização”. Em resumo, segundo Warat, “a metáfora do carnaval pode ajudar a entender que não há mais uma autoridade incontestável, fiadora do poder e do saber; ou se você prefere, na democracia não se pode mais aceitar o princípio de um suposto possuidor do sentido da lei, do sentido último do poder e do conhecimento social”.
Finalmente, nesta caminhada de crítica ao ensino jurídico, ao discurso jurídico e ao normativismo, Warat termina despertando, em que lhe compreende, uma relação de amor e ódio ao que conhecemos como Direito ou Ciência Jurídica. O sentimento é de amor quando traduzimos o Direito como garantia da liberdade, do “plural dos desejos”, da possibilidade de emancipação e que se realiza na alteridade, na mediação; de outro lado, o sentimento é de ódio quando o Direito é simplificado no normativismo castrador de todas as possibilidades criativas e a serviço da opressão.
Ano passado, (2010), no livro “A rua grita Dionísio! - Filosofia Surrealista e Direitos Humanos, Warat retoma críticas antigas ao ensino jurídico, aos ressurgimentos do tipo “neoconstitucionalismo” e ao Direito baseado no normativismo. Diz Warat: “Os juristas pretenderam sair, escapar da bárbarie criando seu barroco particular: o normativismo. Geraram um grande boato com pretensões de universalidade, que reforçou ideologicamente os esforços codificadores, servindo ao mesmo tempo de enlace ilusório para criar um efeito de identificação entre as normas e o Estado. O normativismo se estendeu até cobrir com suas crenças a própria ideia de Estado. [...] Este fato se deve ao conjunto de crenças normativistas, os lugares comuns do senso comum teórico dos juristas. Um senso comum que apresenta graves ingenuidades epistêmicas escondidas, que não se fazem visíveis porque estão recobertas por um sofisticado jogo de idealizações, abstrações ou universalizações que garantem a fuga dos juristas até o paraíso conceitual.”
A “Rua grita Dionísio!” é um texto denso e repleto das inquietações de Warat. No Capítulo III, por exemplo, Warat crítica a teoria dos Direitos Humanos a partir de uma perspectiva “exclusivamente normativista” e propõe “pensar os Direitos Humanos como uma concepção emergente do Direito, uma concepção do Direito e a partir daí começar a produzir, a deixar que o novo tenha sua vez”. Nesse mesmo texto Warat nos apresenta o que seria um primeiro esboço de Direitos de Alteridade. Em suas palavras, “uma listagem que me surgiu automaticamente e que pode ser alterada com variadas combinações”. O primeiro desses onze direitos esboçados por Warat seria o “direito a não estar só”, o segundo é o “direito ao amor” e o último é o “direito à própria velocidade, à lentidão”.
Por fim, para justificar também o título dessa comunicação, conversando com Marta Gama e Eduardo Rocha, talvez em uma de suas últimas conversas registradas, Warat detona definitivamente o dogmatismo, o Direito baseado no normativismo e o mito da imparcialidade do Juiz, aprofundando ainda mais em mim a relação de amor e ódio com o Direito:
-No seu entendimento os juízes conseguem ser imparciais? Os profissionais do Direito conseguem ser imparciais? Eles devem ser imparciais?
- Não, eles não devem. Há uma questão: se vamos modificar a história de que o juiz é aquele que decide, a imparcialidade perde o sentido. Porque no fundo o problema não é a imparcialidade e sim a arbitrariedade. A sensibilidade permite ao juiz tomar a consciência de que não deve ser insensível. A imparcialidade significa tomar distância e eu creio que estamos buscando através do trabalho de sensibilização implicar o juiz no conflito e não afastá-lo.
(http://gerivaldoneiva.blogspot.com/2010/12/marta-gama-e-eduardo-rocha-entrevistam.html).
Não se assustem meus amiguinhos que estão iniciando agora sua relação com o Direito. Os conflitos e as dúvidas estão começando agora. Muitas ainda virão e com mais intensidade ainda. Isto é bom. Significa, sobretudo, que resolvemos nos apaixonar por um desafio: decifra-me ou devoro-te. Aliás, como disse Warat na entrevista concedida a Marta e Eduardo, antes de resolver nossos conflitos com o Direito, “nós temos que inventar um sentido para nossas vidas.” 


Obras citadas:
Warat, Luis Alberto. A ciência jurídica e seus dois maridos. Santa Cruz do Sul: Faculdades Integradas de Santa Cruz do Sul, 1985.
_____, Manifesto do Surrealismo Jurídico. São Paulo: Editora Acadêmica, 1988.
_____, A Rua grita Dionísio! Direitos Humanos da alteridade, Surrealismo e Cartografia. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2010



[1] Esta frase é de Luis Alberto Warat < http://gerivaldoneiva.blogspot.com/2010/12/marta-gama-e-eduardo-rocha-entrevistam.html > e este texto foi concebido para o Jornal A Margem, dos estudantes do curso de Direito da UFPB.
[2] Juiz de Direito (BA), membro da Associação Juízes para a Democracia – AJD.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Conforto e proteção


Essa notícia corre o mundo, assim mesmo, despudorada.

Diz-se que um suposto magistrado de Rorainópolis, cidade de 22 mil habitantes, encravada no sul de Roraima, decidiu atenuar em 1/3 a pena de um estuprador, em razão de que violentara suas 17 vítimas munido de preservativo e lubrificante.
Segundo o magistrado: “precisamos valorizar este gesto, que possui elevado teor simbólico. O fato de o meliante utilizar preservativos e lubrificantes revela um traço de nobreza de alma. Antes de seu prazer, ele se preocupou com o conforto e a proteção de suas vítimas”.
Verdade ou mentira?

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Resumo da Educação no Brasil (Profª Amanda Gurgel)

Professora Amanda Gurgel silencia Deputados em audiência pública. Depoimento Resumindo o quadro da Educação no Brasil. Educadora fala sobre condições precárias de trabalho no RN/BRASIL.





No dia 10/05/2011, a Professora Amanda Gurgel deixou os deputados da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte em silêncio na audiência pública, ela não fala com ódio, ela fala com a indignação que deveria também mover os políticos brasileiros para que este quadro de proletarização dos profissionais da educação tivesse alguma transformação efetiva.
Ela resume bem, na sua fala para a secretária de educação a idéia naturalizada que políticos burocratas tem sobre a educação: “Estão aceitando a condição precária da educação como uma fatalidade?”
“Sou eu a redentora do país? Não posso, muito menos com o que recebo.”
“Sempre o que o poder solicita da gente é paciência, é tolerância… Vocês nos pedem paciência, a minha necessidade de alimentação é imediata, a minha necessidade de transporte é imediata, a necessidade de Jéssica de ter uma educação de qualidade é imediata…”
“Parem de associar qualidade de educação com professor dentro de sala de aula, não fico constrangida de mostrar o meu contracheque, porque penso que o constrangimento deve vir de vocês”

OS TRABALHADORES DA SAÚDE VÃO PARAR DIA 18/05 (Quarta-feira) - 3% É UMA MISÉRIA!

Em 100 dias de governo a mudança nos hospitais foi para pior.  Continuamos vendo o inchaço nos hospitais, como o caso de 300 atendimentos de crianças em um plantão noturno no Pronto Atendimento Infantil, pessoas atendidas no chão no Hospital de Emergência, macas transformadas em leitos, falta de medicação, cirurgias que não são realizadas por falta de anestesia, alimentação com fezes de rato no H.E. Na Maternidade, as mulheres sendo atendidas em uma maca e no corredor. Em Santana as obras retornaram, mas a grande questão é: quando terminar terá trabalhadores suficientes para atender os pacientes no hospital, ou continuarão com mais de um paciente por maca? E nos demais municípios a situação não é diferente. Isso acarreta em sobrecarga de trabalho com mais de 15 pacientes por profissional, estresse e insatisfação.
Nesta semana o governador Camilo Capiberibe anunciou uma mísera reposição de 3%, abaixo inclusive da inflação acumulada de abril de 2010 a abril de 2011 que é 6.31% (dados do IBGE).  A saúde amarga 36% de perdas salariais e no mínimo três progressões atrasadas, além do não cumprimento do PCCS. Não temos dúvida, só a mobilização unificada dos trabalhadores garantirá salário digno e melhores condições de trabalho.
Seguir lutando para conquistar:
ü  Reposição salarial de 36%;
ü  Reformulação da GAS para percentual, 20% do salário base (nível médio R$ 323,00; nível superior R$ 564,32);
ü  Readequação da Insalubridade, pois é necessário ajustar a insalubridade de acordo com o ambiente hospitalar (uma comissão entre sindicato e CEREST);
ü  Adicional noturno e vale transporte e outras gratificações sem desconto da AMPREV;
ü  Pagamento de todas as progressões anunciadas em Diário Oficial e com dotação orçamentária.
§  Plano de Cargos Carreira e Salário:
ü  Execução do PCCS aprovado em 2007 e até o ano de 2011 não foi cumprida, sendo que existe dotação orçamentária para efetiva - lo;
ü  Revisão do PCCS devido à defasagem ao longo dos anos, essa reformulação deve ocorrer conjuntamente com Assembléia Legislativa;
ü  Inclusão dos Massoterapeutas no PCCS.

O SINDESAÚDE convoca a paralisarem no dia 18/05 quarta-feira, às 08 horas, concentração na frente do palácio do governo.

Texto retirado do panfleto do Sindicato de Enfermagem e Trabalhadores da Saúde do Amapá

terça-feira, 17 de maio de 2011

Os livro mais interessante estão emprestado

 
burro1 AUGUSTO NUNES
Direto ao Ponto/UOL
A menção a leituras informa que a frase reproduzida no título do post não foi pinçada de alguma discurseira de Lula. Mas os autores do livro didático Por uma vida melhor, chancelado pelo MEC, decerto se inspiraram na oratória indigente do Exterminador do Plural para a escolha de exemplos que ajudem a ensinar aos alunos do curso fundamental que o “s” no fim das palavras é tão dispensável quanto um apêndice supurado. O certo é falar errado, sustenta o papelório inverossímil.
A lição que convida ao extermínio da sinuosa consoante é um dos muitos momentos cafajestes dessa abjeta louvação da “norma popular da língua portuguesa”. Não é preciso aplicar a norma culta a concordâncias, aprendem os estudantes, porque “o fato de haver a palavra os (plural) já indica que se trata de mais de um livro”. Assim, continuam os exemplos, merece nota 10 quem achar que “nós pega o peixe”. E só podem espantar-se com um medonho “Os menino pega o peixe” os elitistas incorrigíveis.
“Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever tomando as regras estabelecidas para norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas”, lamenta um trecho da obra. Por isso, o estudante que fala errado com bastante fluência “corre o risco de ser vítima de preconceito linguístico”. A isso foram reduzidos pelo Brasil de Lula e Dilma os professores que efetivamente educam: não passam de “preconceituosos linguísticos”.
“Não queremos ensinar errado, mas deixar claro que cada linguagem é adequada para uma situação”, alega Heloísa Ramos, uma das autoras da afronta. Em nota oficial, o MEC assumiu sem rubores a condição de cúmplice. “O papel da escola”, avisam os acólitos de Fernando Haddad, “não é só o de ensinar a forma culta da língua, mas também o de combater o preconceito contra os alunos que falam linguagem popular”.
A professora Heloísa sentiu-se ofendida com a perplexidade provocada pelo assassinato a sangue frio da gramática, da ortografia e da lucidez.  “Não há irresponsabilidade de nossa parte”, garantiu. Há muito mais que isso. Há um crime hediondo contra a educação que merece tal nome, consumado com requintes de cinismo e arrogância. O Brasil vem afundando há oito anos num oceano de estupidez. Mas é a primeira vez que o governo se atreve a usar uma obra supostamente didática para difundi-la.
Poucas manifestações de elitismo são tão perversas quanto conceder aos brasileiros desvalidos o direito de nada aprender até a morte, advertiu o post reproduzido na seção Vale Reprise. As lições de idiotia endossadas pelo MEC prorrogaram o prazo de validade do título: a celebração da ignorância é um insulto aos pobres que estudam.
A Era da Mediocridade já foi longe demais.

"GITAS!!!! E O SALÁRIO oh"

 
 
Com várias categorias anunciando que vão paralisar amanhã, alguns aloprados defensores do governo estão tascando o carimbo de “inimigos do Amapá” nos trabalhadores que vão aderir à paralisação. Ou seja, o trabalhador que ousa lutar por seus direitos passa a ser visto como  inimigo do Amapá, como nos tempos da ditadura militar em seu período mais repressivo.
Cá, com meus botões, eu perguntei: “Será que Garrastuzaram o Amapá? Será que o ditador Emílio Garrastazu Médici, que morreu em 1985 no Rio Janeiro, ressuscitou agora em terras tucujus?”.
Não. O governador socialista Camilo Capiberibe (PSB) jamais permitiria isso.
Isso é maluquice dos alopradinhos que cometem qualquer loucura na tentativa de agradar o chefe.
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Panfleto distribuído pelo SindeSaúde, convocando para a paralisação de amanhã, informa que há fezes de rato na comida servida aos doentes internados  no H.E. (Hospital público do Amapá, em Macapá).
Além disso, o SindeSaúde cita mais uma penca de descaso.
Eis um trecho do texto que está sendo distribuído pelo Sindicato:
“Continuamos vendo o inchaço nos hospitais, como o caso de 300 atendimentos de crianças em um plantão noturno no Pronto Atendimento Infantil, pessoas atendidas no chão no Hospital de Emergência, macas transformadas em leitos, falta de medicação, cirurgias que não são realizadas por falta de anestesia, alimentação com fezes de rato no H.E. Na Maternidade, as mulheres sendo atendidas em uma maca e no corredor. Em Santana as obras retornaram, mas a grande questão é: quando terminar terá trabalhadores suficientes para atender os pacientes no hospital, ou continuarão com mais de um paciente por maca? E nos demais municípios a situação não é diferente. Isso acarreta em sobrecarga de trabalho com mais de 15 pacientes por profissional, estresse e insatisfação.”
Trabalhadores da Caesa, CEA, educação e saúde, entre outras categorias, vão paralisar amanhã, insatisfeitos com o reajuste de 3% (bem abaixo da inflação) concedido pelo governo estadual com o aprovo da Assembléia Legislativa.
O Sindicato de Enfermagem e Trabalhadores da Saúde (Sindesaúde)  diz que  saúde amarga 36% de perdas salariais e no mínimo três progressões atrasadas, além do não cumprimento do PCCS.
Os servidores do Instituto de Pesos e Medidas do Amapá também vão cruzar os braços amanhã.
O governo deu um mísero reajuste salarial de 3% para o funcionalismo, mas aumentou em 100% a gratificação dos contadores da Auditoria Geral do Estado.
Deixando claro – Não sou contra os 100% para os contadores. Defendo que todo trabalhador tenha um salário digno. Mas sou contra que o trabalhador seja humilhado com 3% de aumento!!!

Metodologia Científica

Pesquisas sobre Métodos de Pesquisa:

1 - Metodo Etnografico
2 - Estudo de Caso

Introdução ao Estudo do Direito

Pesquisas desenvolvidas na disciplina de IED.
Links para download:

1- Jurisprudência
2- Eficácia da Lei no Tempo e no Espaço

Ciência Política e Teoria Geral do Estado

Segue alguns links de trabalhos desenvolvidos na disciplina de Ciência Política e TGE ministrada pelo Profº Ricardo Nogueira.

1- Slide -  Reforma Protestante
2- Slide - Transição Democrática no Brasil
3- Doc - Proposta de uma nova administração política
4- Doc - O Contexto Político do Reino Franco na Idade Média

Obs.: Para fazer o Download basta abrir o link e na parte superior da página abaixo do título tem a opção "Download".

Ministro Gilmar Mendes mantém prisão de Cesare Battisti

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou hoje (16) o pedido de soltura apresentado pela defesa do ex-ativista italiano Cesare Battisti na última sexta-feira (13). O relator considerou que não há nenhum "elemento novo" que justifique a medida, como alegou a defesa em relação ao parecer do procurador-geral da República na Reclamação (RLC) 11243, no qual Roberto Gurgel afirma que “não parece ser possível ao STF” decidir se o então presidente da República descumpriu tratado específico firmado entre o Brasil e a Itália ou se praticou algum ilícito internacional ao não extraditar Battisti. Na decisão, o ministro Gilmar Mendes afirma que o pedido é uma reiteração daquele apresentado em janeiro deste ano, e negado pelo presidente do STF, ministro Cezar Peluso.
“A presente reiteração do pedido de relaxamento da prisão está fundada no ‘elemento novo’ que, segundo os patronos do extraditando, é constituído pelo parecer do procurador-geral da República nos autos da RCL 11243. Porém, é evidente que o parecer jurídico emitido pelo procurador-geral da República, de caráter opinativo, não constitui ‘elemento novo’ apto a alterar o estado dos fatos que serviu de base para a referida decisão do presidente desta Corte, ministro Cezar Peluso, não se prestando, em consequência, a juízo de reconsideração do que restou anteriormente decidido. E é óbvio que o Tribunal não se vincula ao parecer do procurador-geral da República”, afirmou o ministro Gilmar Mendes.
O relator da Extradição (Ext 1085) ressaltou ainda que a decisão do Tribunal foi “diametralmente oposta” ao parecer do procurador-geral da República, que opinava pela declaração do prejuízo da extradição com base no ato do ministro da Justiça que concedia o refúgio ao extraditando. “Permanecem, portanto, íntegros os fundamentos da decisão exarada pela Presidência desta Corte negando os pedidos de liberdade formulados pelo extraditando. Ressalte-se, por fim, que, no caso, não há qualquer excesso de prazo imputável ao Tribunal. O processo e os incidentes a ele relacionados têm tramitado de forma regular nesta Corte”, ressaltou Gilmar Mendes.
Em sua decisão, o ministro informa que o exame da controvérsia suscitada no processo de extradição do italiano Cesare Battisti “está concluído e em breve será apreciado pelo Plenário da Corte”, tendo em vista que já há parecer da PGR na Reclamação 11243.

O direito à renda como afirmação da justiça distributiva

"Sofri e ainda sofro discriminação pela cor da minha pele, por ter vindo da periferia, por usar cabelo rastafári e contas de candomblé, por ser mulher e nordestina. Mas foi aos nove anos de idade que senti a dor que a falta de uma renda digna pode causar a alguém.
Sou neta de escravo, filha de motorneiro de bonde e lavadeira. Como meus pais não tinham dinheiro para comprar um determinado material escolar, meu professor de artes disse que o lugar de uma negra como eu era na cozinha de uma branca fazendo feijoada e não na escola. Esse episódio marcou a minha vida para sempre. Tornei-me procuradora e depois juíza muito por conta dele."

Luislinda Valois, 69, é juíza do TJ-BA. Considerada a primeira magistrada negra da história do Brasil, proferiu a primeira sentença contra o racismo e criou diversos projetos de inclusão a partir do acesso à Justiça.
 
leia mais aqui: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?cod_post=380500&ch=n
 

Da Série Paradoxos Penais



Ao sair da delegacia (vide postagem anterior), Legisnaldo estranhou, pois não havia ninguém à sua espera. Resolveu chamar um táxi e pagar a corrida quando chegasse em casa, pois todos os seus pertences, incluindo o aparelho celular, tinham sido entregues à família.
Logo que dobrou a esquina, eis que a oportunidade fez o ladrão: dentro de um veículo de luxo, zero quilômetro, ainda sem placa, uma bolsa Louis Vuitton aberta, deixando à mostra um notebook que estava em seu interior. Seria sua redenção. Finalmente daria início à sua carreira criminal, da forma sonhada.
A rua estava tranquila, sem ninguém presente àquela hora. Porém, o carro estava trancado. Como, então, furtar aquela bolsa?
Resolveu examinar o veículo mais de perto. A família de Legisnaldo tinha outros Mercedes da mesma classe, e ele reconheceu que o alarme estava desligado. Olhou para um lado, olhou para o outro... Bum!
Com o vidro quebrado, conseguiu abrir a porta e entrar no carro. Rapidamente, catou a bolsa e abriu o porta-luvas para conferir se tinha algum objeto de valor. Eis que se deparou com a chave reserva do veículo, ainda em um saco plástico, junto com o manual do proprietário. Uma dúvida logo surgiu. Sacou rapidamente debaixo da axila seu vade mecum e conferiu:

Furto
Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 4º. A pena é de reclusão de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa, se o crime é cometido:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;

Existia uma nota de rodapé de seu vade mecum, explicando que a qualificadora desaparece se o dano causado é na própria coisa que se pretende furtar. Isto é, se Legisnaldo quebrasse o vidro do carro e furtasse a bolsa, cometeria furto qualificado pelo rompimento de obstáculo à subtração da coisa, cuja pena duplica. Mas se furtasse um carro de mais de cem mil reais, com tudo que estava dentro, não... Rendeu graças e beijou carinhosamente o seu vade mecum, e nem pestanejou: deu partida e saiu em disparada. Ao longe, viu uma movimentação pelo retrovisor. Tinha sido descoberto.
Sirenes da política logo começaram a ser ouvidas. Aproximaram-se. Não teve jeito. O sinal fechou e a casa caiu. Foi logo algemado e colocado num camburão, fazendo companhia a dois homens desdentados e sujos que já estavam detidos. Contudo, o vade mecum, seu companheiro de todas as horas, foi junto.
Instantes  depois, ouviu uma voz.
- Tragam a vítima, tragam a vítima para reconhecer o ladrão! – gritou um dos policiais.
E lá vinha uma senhora idosa caminhando apressadamente. Ela então olhou para Legisnaldo, abraçou-o e disse:
- Meu herói!
- Como é, minha senhora? – questionou um policial atônito.
- Tá vendo? Meu filho é um herói! Troquei o carro dele ontem e fui apanhá-lo na delegacia. O coitado foi preso por uma besteirinha que fez (confira aqui). Saí apressadamente, nem liguei o alarme, pois não imaginava que haveria uma pessoa tão ousada a ponto de cometer um furto no quarteirão da delegacia. Um bandido furtou o carro que compramos pra ele, mas meu filho conseguiu recuperá-lo. Estava-o levando para casa, não era?
- Um momento, mamãe... – respondeu.
Legisnaldo fez um gesto destacando as mãos algemadas e o policial prontamente o libertou, desculpando-se. Ele então sacou seu vade mecum, que repousava embaixo de sua axila, e o abriu. Conferiu que furtar a própria coisa é atípico.
- Claro que estava indo para casa. O carro era meu! – para a indignação dos dois presos do camburão que assistiram a tudo.
A fama de Legisnaldo, e seu vade mecum, espalhou-se pelas delegacias e presídios. Todos queriam uma orientação de como se safar, de como escapar pelas rachaduras da lei penal, como se beneficiar dos seus paradoxos. Naquela noite começaria sua carreira de Consultor Criminal. Mas aí é uma outra história, a ser contada nos próximos capítulos...