Em reportagem publicada no Jornal Valor Econômico, o líder do PTB na  Câmara, Jovair Arantes (GO), sugeriu a extinção da Justiça Eleitoral  como principal proposta para o debate da reforma política.Arantes dizia  que a intenção era botar o “dedo na ferida”.
Sua maior reclamação é que a Justiça Eleitoral interfere demais nas  disputas e tem levado à realização de uma espécie de terceiro turno nos  tribunais. O argumento não é de todo ausente da agenda pública. A  judicialização da política é sempre citada como um dos problemas da  democracia - não só a da brasileira, diga-se. Mas a ideia, pela  radicalidade, parecia carregar a marca da idiossincrasia inócua. Eis,  contudo, que a ousadia tem mostrado sua capacidade de conquistar  corações e mentes.
O líder do PDT na Câmara, Giovanni Queiroz (PA), reconhece que “a  tese de Jovair” mexeu com a cabeça de muita gente no Congresso. “Temos  que acabar com essa estrutura do TSE e dos TRE”s. Não há razão para que  as ações não sejam julgadas pela Justiça comum. Os juízes são  emprestados, não são especialistas na matéria”, defende. Queiroz sugere  que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) exerça as funções do Tribunal  Superior Eleitoral (TSE) e que os tribunais de justiça estaduais ou os  regionais federais desempenhem o papel dos Tribunais Regionais  Eleitorais (TRE”s). Qual seria a vantagem? “Menos palacetes seriam  construídos. Eles agridem a miséria brasileira”, diz.
O argumento de Jovair Arantes - que está preparando uma proposta de  emenda constitucional sobre o assunto - é semelhante. Ele critica o  custo de quase R$ 5 bilhões da Justiça Eleitoral, mesmo em ano sem  eleições. Mas o ponto crucial é mesmo a interferência no processo  eleitoral.
O ativismo é visto como preocupação principal pelo líder do PT na  Câmara, Paulo Teixeira (SP). O deputado se diz contrário à extinção, mas  defende a delimitação do poder normativo da Justiça Eleitoral. “Ela tem  exercido uma regulamentação muito exacerbada”, afirma. Teixeira cita  como exageros a verticalização das alianças, em 2002, e a interpretação,  no ano passado, de que o suplente deve pertencer ao mesmo partido do  titular, contrariando critério em vigor há décadas.
Presidente do TSE, o ministro Ricardo Lewandowski nega que haja  ativismo. Afirma que o tribunal só age quando provocado. “Os  protagonistas são os políticos. Somos coadjuvantes, como árbitros numa  partida de futebol. O que ocorre é que os jogadores estão pedindo a  intervenção do juiz”, diz. Lewandowski argumenta que sempre nos momentos  em que a Justiça Eleitoral foi enfraquecida “houve um retrocesso”, como  no Estado Novo (1937-1947) e depois do golpe militar de 1964.
O presidente do TSE aponta o sistema de rodízio e os mandatos de dois  anos não como desvantagem, pela falta de especialização, mas como forma  de se evitar uma “ideologização” dos magistrados. Lewandowski ressalta  ainda o baixo custo das eleições de 2010 - R$ 3,60 por cidadão, “o preço  de um café com leite” - e a eficiência do TSE, que divulgou o resultado  presidencial em 1h04.
De fato, a Justiça Eleitoral brasileira pode ser considerada modelo  quando se leva em consideração situações constrangedoras vividas por  democracias ditas avançadas. A eleição presidencial americana de 2000 é  um exemplo. A decisão a favor de George W. Bush se deu na recontagem de  votos da Flórida, governada pelo irmão do então candidato republicano,  que tinha influência sobre a Justiça Eleitoral do Estado. No Reino Unido  e na Suíça, o Executivo também se confunde com o Judiciário em questões  eleitorais e abre margem ao favorecimento de quem está no poder. Outros  países (como Rússia, Uruguai e Equador) adotam modelos híbridos que  combinam funcionários públicos de carreira e nomes indicados pelos  partidos políticos.
No Brasil, a Justiça Eleitoral é uma das instituições mais antigas do  sistema político. Veio na esteira da Revolução de 30 e tinha como  objetivo moralizar o processo eleitoral e acabar com as fraudes que  marcaram a República Velha.
Nos últimos anos, no entanto, saiu do pedestal e passou a ser vista  como incômoda protagonista. No ano passado, foi alvo de críticas  incessantes. A oposição, ao ver o então presidente Lula fazer campanha  antecipada para sua candidata, Dilma Rousseff, esperneava e acusava o  TSE de ser leniente, inoperante. Já o governo reclamava de estar  amarrado a regras que tolhem a política. E, assim, o trânsito da  propaganda eleitoral caiu no denuncismo e na tentativa de impingir  multas ao adversário. O TSE foi o juiz infeliz de um jogo feio,  catimbado, cheio de faltas. Pelo jeito, não está agradando nem aos  vencedores.
 
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